Poesia
Florbela Espanca – Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar?...
Namorados do Sul
A insatisfação dos teus olhos
de traineira e bailarina
distância e movimento
algas roupa de mariposas.
Os teus olhos fascínio
descem aos meus lábios
de carvão e cortiça
que flutuam insensatos...
Odete Semedo (Guiné-Bissau) – Poemar
Poemar é amar o mar
Poemar é revestir o ser
Com o próprio pensamento
É trazer à superfície
O subconsciente
É ser vidente
É ser viandante
É amar a dor
E dar...
Pedro Assis Coimbra – Rua da Saudade
Disse-te
não há casas nocturnas
as três fadas da princesa
virgínia na rua da saudade
do fado plebeu dos outros
e os canários belos dos seios
na areia amarela dos...
Clarice Lispector – Minha alma tem o peso da luz
Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita,
prestes quem sabe a ser dita.
Tem o peso...
Vem Amor Vem Comigo
As águas doces agitam-se
correntes transportam pipas de vinho
vidros madeiras gaiolas e mastros.
Loureiros com ninhos de pintassilgos
folhas e bicos línguas de prata.
Olhos e que olhos!...
Vera Duarte (Cabo Verde) – Desejos
Queria ser um poema lindo
cheirando a terra
com sabor a cana
Queria ver morrer assassinado
um tempo de luto
de homens indignos
Queria desabrochar
— flor rubra —
do chão fecundado...
Cacilheiro
No cacilheiro para Lisboa
Há um baloiçar de criança
das ancas do sol
nos olhos cinzentos da água.
Nos meus olhos
só há luz para iluminar
os lagartos aquáticos
que povoam...
António Gedeão – Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como...
Pedro Assis Coimbra – Sinais de Fumo
Repouso por momentos
o coração no azulejo mouro
dos teus lábios. Será possível?
E caminhas pressinto!
Uma cotovia sedosa anuncia
entre dois sinais de fumo e fogo
o dia do...
Manuel Alegre – Uma Flor de Verde Pinho
Eu podia chamar-te pátria minha
dar-te o mais lindo nome português
podia dar-te um nome de rainha
que este amor é de Pedro por Inês.
Mas não há...
Pedro Assis Coimbra – De mil rosas uma só
Porque és a constelação
do inesperado de dias
noites e luzes
vogais e alegrias
de estrelas azuis.
Permite-me
Ó caminho esvaído
Ó sono inquieto
Ó roseiral intenso!
Que tire as meias
dos teus pés...
Adriana Lisboa – Lavar a Alma (e Anita Malfatti – As...
A alma precisa ser lavada à mão.
Não que seja de pano delicado,
nem que sangre tinta. Ao contrário,
a alma é bruta, e se não for...
Deixa-me cantar-te cidade (Porto)
Deixa-me cantar-te cidade
com as melodias tranquilas
das minhas raízes mais a sul.
Depois prolongar em ti solfejo
a grandeza do fogo e do fumo
tocar-te na cartografia da...
Eugénio de Andrade – Adeus
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos...
Quando por fim amanhece
Quando por fim amanhece
e Lisboa se desperta
é que os teus olhos perfeitos
batem às janelas dos meus.
Os dedos finos ainda não voltaram
e como o fado...
Vinicius de Moraes
Soneto de Fidelidade
São Paul, 1946
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior...
Pedro Assis Coimbra – Prolongar o Coração
Sim! É finalmente aqui
entre o litoral e o nada
que o meu sonho se entrega
e eu repouso nos teus olhos.
Sim! É finalmente aqui
que as ilhas...
António Cardoso – Árvores de Frutos
Cheiras ao caju da minha infância
e tens a cor do barro vermelho molhado
de antigamente;
há sabor a manga a escorrer-te na boca
e dureza de maboque...
Pedro Assis Coimbra – Se o solstício não chegar
"A primavera, perfumada nos concede
toda uma floração tão doce como o néctar" Píndaro
Na terapia da tua voz fermentando a luz
na noite persa mais longa...